A principal referência no país em Jornalismo Literário, Edvaldo Pereira Lima, conta como as técnicas dessa modalidade podem contribuir para uma comunicação interna mais humanizada e atrativa (tema abordado anteriormente aqui).
O jornalista, escritor e doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP) ministra cursos presenciais e online, como o “Narrativas Biográficas em estilo de Jornalismo Literário” (saiba mais aqui), que já está acontecendo – os interessados podem se inscrever a qualquer momento para participar em seu ritmo, ao montar o próprio cronograma.
Confira, a seguir, a entrevista exclusiva com Edvaldo Pereira Lima.
Como as técnicas de Jornalismo Literário ajudam a construir boas histórias?
O Jornalismo Literário é uma modalidade jornalística baseada essencialmente na arte narrativa de contar histórias. Diferentemente do jornalismo convencional, que normalmente estrutura de forma linear e lógica, o literário utiliza recursos narrativos diferenciados que oferecem ao mesmo tempo uma abordagem contextual e abrangente, assim como uma qualidade estética de linguagem que provoca prazer na recepção da mensagem. Procura transmitir uma visão a mais completa possível da realidade, juntando elementos da face concreta da realidade – os fatos – e os elementos subjetivos e sutis que estão atrelados à natureza orgânica, complexa, da vida, como por exemplo a simbologia dos gestos, das emoções, dos sentimentos manifestados. E o Jornalismo Literário procura fazer isso, acrescentando a tudo o foco essencial nas pessoas, que fazem a história do dia a dia acontecer, não os números frios ou as instituições sem alma.
Por que esse método é indicado a outros profissionais que não sejam jornalistas?
A produção do jornalismo convencional está muito condicionada por técnicas e procedimentos que engessam muito a criação dos profissionais. Já a liberdade autoral que o Jornalismo Literário oferece tem sintonia com o potencial talento natural que muitas pessoas possuem para contar histórias estruturadas e fundamentadas. Esse talento está presente em muitos jornalistas, obviamente, mas pode bater à porta de escritores de ficção que se sintam chamados a escrever não ficção, de historiadores, sociólogos, artistas, psicólogos, educadores e pessoas de tantas outras áreas, inclusive administradores de empresas. Esse tipo de potencial não escolhe diploma para se manifestar.
Como essas técnicas podem ajudar a comunicação nas empresas?
Já é patente, em muitas empresas, o entendimento de que a comunicação formal, linear e objetivante só faz sentido em alguns casos. Mas a comunicação que precisa causar impacto, ser absorvida plenamente e engajar pessoas não funciona nesse modelo estéril. As pessoas se mobilizam muito mais pelas histórias do que pelos fatos frios. O Jornalismo Literário é uma tradição de se praticar storytelling num determinado contexto e num determinado formato que podem facilmente ser transportados para o terreno da comunicação corporativa. O seu diferencial é que tem a habilidade comprovada de realizar essa missão a partir da capacidade de captar, ler, interpretar e analisar a realidade, entregando um produto narrativo que alia ao rigor da reprodução do real a beleza estética da comunicação que de fato sensibiliza as pessoas.
Por que se dá cada vez mais importância a uma comunicação corporativa humanizada?
Porque o mundo está mudando. A visão de mundo reducionista que imperou durante alguns séculos e ainda impera está se mostrando perigosa para a sociedade e para a vida. Nesse contexto, temos de humanizar nosso olhar, enxergarmos o outro como pessoa – na sua complexidade de vitórias e fracassos, erros e acertos, glória e sombra – e não como um número de consumo ou uma peça de engrenagem. Nesse cenário de necessidade de profunda transformação do nosso olhar e da nossa ação no mundo, as empresas ocupam um papel da maior importância. Daí a questão da humanização no ambiente corporativo e da comunicação organizacional que absorva essa tendência cujo propósito maior é a melhoria do estado geral da nossa civilização, que se encontra em pânico e precariamente sustentada em bases de areia movediça.
Qual técnica de Jornalismo Literário poderia ser aplicada pelos leitores deste blog no dia a dia da área de Comunicação Interna?
A cena. Construir as narrativas como se fossem um trecho de um bom filme. Dar movimento às ações e sequências de um acontecimento. Descrever o cenário real em torno. Captar o clima psicológico que cerca qualquer ação. Dar vida às pessoas envolvidas nas situações específicas retratadas. Tornar o texto ágil. Alternar e mesclar recursos narrativos básicos, como o diálogo, a narração em si, as descrições de pessoas, tempo e lugar. Deixar a sensibilidade – do autor – ser tocada pela experiência do que está contando. Liberar a criatividade para expressar o real com cor, ritmo, calor, humanidade. Sentir o caráter envolvente e dinâmico da vida das coisas e das pessoas, deixar que esse pulsar da existência nos toque a alma e o coração, além da inteligência. E então confiar na habilidade natural – e cultivá-la, conquistando-a por meio da educação – para representarmos com vigor e beleza as histórias das vidas que presenciamos e experimentamos todo dia e a toda hora em nós mesmos, nos outros, à nossa volta.
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