É preciso repensar a ‘Ditadura dos Números’ na comunicação

É preciso repensar a ‘Ditadura dos Números’ na comunicação

Não é de hoje que a área de comunicação sofre para provar seus resultados por meio de valores tangíveis. O principal motivo é que as empresas querem números para tudo, o que nem sempre é muito fácil de encontrar no setor: afinal, como se mede de forma verdadeira o retorno que uma boa campanha de comunicação pode causar na área de qualidade ou de vendas de uma empresa? Como dividir o bolo do sucesso entre todos os setores envolvidos sem cometer alguma injustiça?

Mas, quem disse que esses valores tangíveis são tudo em uma empresa? Há sempre as questões intangíveis: embora não sejam facilmente “palpáveis”, não significa que elas não existam. E há uma boa prova disso.

Robert McNamara pode ser considerado um dos mais importantes expoentes da gestão com base em estatísticas. Pós-graduado pela Harvard Business School e membro do Departamento de Controle Estatístico do Exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial, ele teve papel crucial para melhorar a logística e o planejamento das missões.

Terminada a guerra, em 1945, McNamara desfrutou de seu sucesso trabalhando na iniciativa privada até ser convidado pelo então presidente John F. Kennedy para ser seu secretário de Defesa, em 1961 – cargo que ocupou durante parte da Guerra do Vietnã. Foi nesse período que o mundo teve a prova de que nem sempre os números mostram toda a realidade.

No auge do conflito, ao ficar cada vez mais claro que os Estados Unidos estavam distantes da vitória na guerra, apesar de todo o poderio militar, McNamara continuava afirmando que os norte-americanos estavam em vantagem, já que uma das ferramentas utilizadas para contabilizar a vitória era a contagem de corpos – e morriam muito mais vietnamitas do que norte-americanos no conflito.

Em 1975, quando a guerra chegou ao fim com o último helicóptero deixando, derrotado, a embaixada dos Estados Unidos em Saigon, no então Vietnã do Sul, as estatísticas continuavam favoráveis aos norte-americanos. A realidade se impôs sobre os números.

O que faltou? Levar os valores intangíveis em conta. O próprio McNamara assumiu isso em seu livro de memórias, de 1995: “Nós falhamos em reconhecer as limitações de equipamentos, forças e doutrinas militares modernas e de alta tecnologia ao enfrentar movimentos de pessoas altamente não convencionais e altamente motivadas”.

Esse episódio da história mostra de forma pedagógica que é preciso ir além da “Ditadura dos Números” dentro das empresas. Motivação e engajamento, por exemplo, são bem complexos de serem mensurados de forma tangível, mas, como visto no Vietnã, podem ser fundamentais para o sucesso. É hora, portanto, de repensar esse modelo e apresentar novas perspectivas nas organizações para demonstrar a importância da comunicação.

Mais informações sobre o trabalho de Robert McNamara podem ser lidos aqui e aqui. O documentário “Fog of the War”, que venceu o Oscar da categoria em 2004, também é uma boa sugestão.

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